Valsar

Estar em teus braços
leves
por instantes
breves
é como dançar
"Contos dos Bosques de Viena"
- valsar
e valsar
na leveza de teus passos -
e em uníssono
agregar à vida
mais um sonho
no brilho da nossa estrela.

Ânsia

Não sei o que quero
não sei o que queres
e falamos demais
e falamos de menos
ou nada falamos
deixamos as rédeas
de nossas ânsias,
castradas pelo tempo
e distância
de mãos,
falarem
sem a teia das palavras
na rede da energia
na polaridade do alumbramento
de tuas águas

não te vislumbro amanhã
sinto teu corpo
sobre o meu
hoje
apenas...

Enquanto a cidade dorme

Enquanto a cidade dorme
rememoro
enxovalhados pensamentos
olho o asfalto e as luzes,
mas não vejo nada
- tudo que vejo é nada -
um coletivo
duas ou três pessoas
um cachorro,
idas e voltas

a cidade dorme
e não posso adormecer também

Enigma

Um pombo
pousou
meu destino
e derramou
grãos
de
esperança
fazendo do
contido,
riso

decifrar?
pra quê?

Poesia

gaivotas velejando
sobre o verde-azul do mar
olhos de paraíso
vislumbrando o infinito
ancião-menino
dobrando a esquina

passos de luz
povoando de sonhos
a noite

vida-morte
dura lida
e o resto,

é sorte !

Resumo

Pensas que durmo,
amigo?

À noite

afio
meu
prumo.

Pecado

Primeiro
ele se achegou
com uma flor na mão

depois
mexeu na casa
cortou meus cabelos
fez nossa comida

e então
tomou meu ventre
e cometemos o pecado
de amar
sem amor

Máscaras

Mágico é o instante
do encontro das
mãos
Mas tua busca é maior
queres além das mãos
queres a mim inteira

( como se eu inteira
fosse... )

Eu

asas de menina
em sonhos de mulher
flor de guanxuma
pedindo alento
no desencanto das estações
sombras da noite
na soleira da janela
marcas de dor
estampadas na agonia da tarde

grito,
silêncio
e poesia!

Novos (velhos) tempos

Nuvens em janeiro?
- não!
Névoas em janeiro?
- sim!
E nos mecânicos sonhos
dos novos,
o cosmo se renova,
é verão
e o sol aquece,
clareia,
só não dilui
a escuridão
do coração,
não esvanece a dor
não faz nascer o amor
o amor
só sente a nostalgia
do paraíso
- in illo tempore -
e o desejo cru
de reintegrar-se
à criação
já não podendo...Ser!