trabalho paragrafo

A arte é expressão estetica da vida.

Ausência

O veludo grita
esganiçado da ausência
já não há nuvens
por sobre os passos
já não há - passos
As águas de mim
deságuam
diluo-me na paisagem

- teu corpo
A tessitura das mãos
é oceano-melodia

fado-falo
amanhecendo o corpo
O mundo não passa
a ser cinza
só porque você resolve
vê-lo assim

Vertigem

Nua
por tuas mãos
pela noite
vestida por teu corpo
despida... até da pele.

Coragem

São outros olhos
seus motivos de amar

(verdade e alívio
colhidos na madrugada)

- ela preferiu saber.
As asas
de meus pássaros
fizeram de mim
voagem

poetas

estranhos seres
tão frágeis
entregues a não querença
as ganas
que trazes à derme
despertam ângulos
infinitos
da paisagem

Secura

De ti,
só recebi uma flor,

era vermelha
e secou

redefinição

vencidos os últimos
estampidos de luz,
a noite
engole o dia
fiquei nua
nos caminhos
que de mim
partiram

Incasáveis

Depois de tanto amar
ainda estamos
inteiros e prontos,
ele arremata
"às vezes, tontos"
Encontrar as mãos um do outro
no desencontro
entre vida
e tempo
- eis a revelação
ávida,
a mulher engolia
farelos da noite

passada

Fio

Fito-me em teus olhos
longamente
- brinquedo meu?
sensação eterna: tudo
está por um fio, sempre.

Invisível

Meu lado invisível
tem janelas
sem grades
tem milagres
sem rezas
tem gramática
sem letras
tem laranja
sem gomos
(aliás, sem casca...)
meu lado invisível
eu não sei
é invisível

Passagem

Nossos olhares
não são chispas de amor,
nem de paixão.

são nuvens
carregadas de ilusão

o resto
é esperança
tempo
e passagem

Domadora

Domo
enseadas

quebro
palavras

corto as asas
dos anjos

e não deixo nada
aos que virão

Soletude

Contemplo
teu Mallboro
na ânsia e distância

não me deste o mote!

tive que arrancá-lo
do eco dos deuses

infidelidade
clandestinidade

querias tirar o cansaço
de minha alma

na ilogicidade da lua

y me quedé sola

na parede nua

Silêncio-ternura

Ao Zé Dutra


As pedras rolam
e seguem
és tempo e inauguração
furacão e brisa.
Se és terra,
abraço tua ternura,
mas teus olhos não.
Se deixas minha alma
sem chão, ela sorri,
quer voar por tua mão.
Sei que a vida se vive uma vez
e são tantas as gaiolas
deste mundo...
Então, se eu morrer amanhã
sem nossa conversa
sob as árvores,
direi apenas
de teus olhos? incômodos
não burlarei
teu silêncio-incompletude,
nem descobrirás
meus véus-fragilidade

o resto são entrelinhas
e nada mais.

Rio & tempo

funéreo o penhasco
suja a água
sem o dom original,
desacompanhada do leito
já sem curso

mas as gentes sorriam e
falavam
olhando o estranho rio,
com dobras no curso
longe do leito

no escuro do rio
– as dores das gentes
escuras também
em seu parco viver.

sono

I

não havia esteira
no eco do sonho
não havia esteira
e a vida dormia
dormia

II

um dia acordou cansada,
bruxas haviam rondado
sua noite
o sono fugia-lhe
pelos vãos do escuro
– não havia luar

III

noite adentro
perambulou sem fé
cactos lânguidos
jogavam a sorte
nos espinhos
é hora de cair as
cortinas
– talvez acordar.

inveja

Menina de trança,
o tempo vem
encostar-se em ti
para roubar um pouco
da tua graça.

Silêncio

O silêncio morno
dos teus olhos
carregados de
antigas partidas
avisam de um
real perigo
chegas manso
sem estardalhaço,
mas avanças
a cada dia um passo
tecendo o laço
que enlaça
nossas vidas
na doce sugestão de
carnudos lábios
sem ganas
e flertes
entre o castanho e o negro
do olhar.

Insaciedade

o tempo
leva o rumo dos sonhos
no verde dos olhos
a tarde cala segredos
dilacerando o outono

as mãos são folhas
levadas pelo vento
na chuva do teu abraço

névoa-noite
tormenta-pele
anseio-delírio

lençóis no chão
insaciedade, insanidade
e o suor dos corpos

é chama eterna
de inconclusos
amantes

Perfume

Com pressa

não
sentirás

meu
perfume

Posse

Se meu corpo te procura
não bastam lembranças
há a sede e a gana
jorro uma dança insana
em teu corpo nu
requebros de serpente

o vulcão de teu corpo
a fazer-me lânguida
na hora da posse

olhos fechados
mundo desconfigurado
só um gemido
a balbuciar
( talvez )
amor
eternidade? ( não somos deuses )
só chamas a consumir-se
na fúria do instante!

Segredos

Se um raio de luz
atravessa minha vida
e parte-se em dois,
é porque as preces foram ouvidas,
mas o rio da vida secou.

O eco traz a sombra
e bem mais que lembranças
atravessam meu corpo
num passado tão presente
eternamente presente...

Há murmúrios,
segredos não revelados
e um intransponível abismo,
mas há também
o desejo de que não te vás

Sem levar um pouquinho de mim.