Ausência

O veludo grita
esganiçado da ausência
já não há nuvens
por sobre os passos
já não há - passos
As águas de mim
deságuam
diluo-me na paisagem

- teu corpo
A tessitura das mãos
é oceano-melodia

fado-falo
amanhecendo o corpo
O mundo não passa
a ser cinza
só porque você resolve
vê-lo assim

Vertigem

Nua
por tuas mãos
pela noite
vestida por teu corpo
despida... até da pele.

Coragem

São outros olhos
seus motivos de amar

(verdade e alívio
colhidos na madrugada)

- ela preferiu saber.
As asas
de meus pássaros
fizeram de mim
voagem

poetas

estranhos seres
tão frágeis
entregues a não querença
as ganas
que trazes à derme
despertam ângulos
infinitos
da paisagem

Secura

De ti,
só recebi uma flor,

era vermelha
e secou

redefinição

vencidos os últimos
estampidos de luz,
a noite
engole o dia
fiquei nua
nos caminhos
que de mim
partiram

Incasáveis

Depois de tanto amar
ainda estamos
inteiros e prontos,
ele arremata
"às vezes, tontos"
Encontrar as mãos um do outro
no desencontro
entre vida
e tempo
- eis a revelação
ávida,
a mulher engolia
farelos da noite

passada

Fio

Fito-me em teus olhos
longamente
- brinquedo meu?
sensação eterna: tudo
está por um fio, sempre.